quinta-feira, 11 de novembro de 2010

música no parque


Eu ia dar a este post o título "Música no Parque e sua capacidade de revitalização de um espaço público", mas né, ia ficar com cara de artigo acadêmico.

O Parque da Cidade nunca realmente fez parte da minha vida aqui em Salvador, mesmo quando eu era pequena e morava do ladinho dele. Lembro de ficar olhando pela janela, curiosa sobre o que exatamente era aquele monte de árvores e sobre como chegar lá. Devo ter ido 3, 4 vezes, a última delas aos 15, em um piquenique com minha família e amigos (no qual eu chamei minhas amigas mais fresquinhas, e um tio meu levou um frango assado).

A verdade é que o parque é, e sempre foi, perigoso. Sua entrada está em uma região nobre da cidade, na Av. ACM, em frente ao Alto do Itaigara. Mas, como todos sabem, Salvador é uma cidade de morros e vales, como a pobreza convivendo lado a lado com bairros de IDH norueguês. No fundo do parque está o bairro de Santa Cruz, um dos mais perigosos da capital baiana, e de enorme em extensão, uma vez que se confunde com o Nordeste de Amaralina e o Vale das Pedrinhas. É possível acessar o Parque da Cidade pelos fundos, através de Santa Cruz, em meio a uma vegetação mais fechada. Por isto, além de arrastões no próprio parque, a criminalidade chegava à rua, e eram constantes vidros quebrados e carros roubados no engarrafamento local.

Por isso, diversas vezes pedi para ir até lá e ouvi como resposta: "Não, é muito perigoso". E tinha a impressão de um lugar escuro e bizarro, com bêbados imundos caminhando em meio às arvóres, e gangues armadas contando o dinheiro das drogas sentadas na casinha no parquinho infantil. Um exagero, claro.

A verdade é que realmente não é uma boa ideia fazer um passeio noturno por lá, nem mesmo durante o dia se embrenhar em meio às árvores, nos cantos mais remotos do parque. Mas é um lugar lindamente frequentável, fresco, agradável, movimentado e simpático, em que se pode levar as crianças para brincar nos parquinhos e no pula-pula, fazer um piquenique ou apenas ficar sentado na sombra das árvores esperando o dia passar.

Um programa mais que interessante em uma cidade cuja principal opção de lazer sempre foi, e ainda é, ir à praia. Não precisamos ser sempre temáticos, não é mesmo?

Parte da movimentação do parque nos dias de domingo se deve a um projeto de parceria público privada que se chama Música no Parque. Há oito anos, sempre às 11h, o projeto convida músicos e grupos de renome para cantar gratuitamente no palco Dorival Caymmi e democratizar o acesso à cultura.

Desde já aviso: levem água, boné, sombrinha, protetor solar e respirem fundo antes de ir para um show. Escolheram o único canto não ventilado do parque, colocaram o palco fechando ainda mais o vento e criaram uma verdadeira estufa no local. Não satisfeitos, escolheram 11h como o horário do show. A combinação pode fazer os mais frágeis sinceramente passarem mal.

Outra dica é chegar cedo e sentar na parte mais alta, à cima da arquibancada, na grama, e aproveitar as árvores para ao menos se proteger no sol. Mas tem que chegar cedinho mesmo, se não não sobra lugar na sombra para ninguém.

Feita a introdução, este domingo fui para lá ver a Orkestra Rumpilezz. Não podia ter uma melhor banda para meu projeto "redescobrindo Salvador", uma vez que a banda faz uma verdadeira redescoberta do ritmo baiano. Tradicional e moderno, sem ser clichê. O show de domingo foi uma delícia (apesar de que tenho que confessar que sou muito branca para o sol que estava fazendo) e me fez pensar na quantidade de espaços que podem ser renovados com ideias simples.

Fiquei pensando em empresas para propor a adoção do Parque de Pituaçu, por exemplo, e logo depois descobri que uma amiga de um amigo foi derrubada, quebrou o braço, para que roubassem a bicicleta dela. Ou o Jardim Botânico, como anda? Ninguém ouve falar. O Zoológico da cidade continua abandonado e me dá mais tristeza do que qualquer coisa ir lá. Entre tantos outros lugares, que precisam ser renovados, conhecidos, valorizados.

Não tirei fotos porque minha máquina resolveu parar de funcionar exatamente quando eu estava lá. Vocês podem ficar bem informados sobre as próximas atrações no site do Música no Parque. A Orkestra Rumpilezz também tem um, e vários vídeos no Youtube (e este aqui foi de domingo, no Parque da Cidade).

4 comentários:

Bruno disse...

Rumpilezz, Moreno Veloso, Ronei Jorge e outros são, para mim, a baianidade pós moderna, heheh. Província e metrópole ao mesmo tempo. Muito bom!

Anônimo disse...

Não há quem resista àquele sol.
Geralmente, à medida que o sol vai-se virando pa lá, as pessoas vão se amontoando a beira do palco para fugir do sol e aproximando-se das caixas de som; faca de dois gumes.
Aconselho aos menos precavidos carregarem seus guarda-sol, ou sua turba, seu chapéu... não me meto em questões culturais.

Jéssica disse...

Gosto da vibe woodstock que o lugar tem por conta da elevação com grama de onde dá para ver o show na sombra e de costas para as árvores. Nesse dia da Orquestra, surgiu do meio do bosque (risos) uma mulher ruiva carregando uma cesta dessas de piquinique, vendendo uns pastéis caseiros o que, junto com os bebês rosas e os tampores da banda, deram um ar místico ao dia

Vinícius disse...

a impressão que eu tenho é que os governantes daqui do nordeste tem algo contra os espaços públicos, parece que soa mais confortável pra eles manter as pessoas trancafiadas em casa do que convivendo na rua. é, eu sei que pode parecer mais uma teoria de conspiração besta mas não vejo nenhum motivo pra tamanha desvalorização.

moro em natal e aqui há um parque lindo (Parque das Dunas) que se não fosse a iniciativa privada também estaria largado. Eles desenvolvem um projeto de música instrumental todos os domingos pela bagatela de 1 real. algum tempo atrás as apresentações foram suspensas por falta de verba e de divulgação.